terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Heresia e Patrística


1-Etimologicamente, heresia significa "escolher", "preferir". Ao longo de todo o período em que a Igreja exerceu sua dominação, a palavra adquiriu um sentido polissêmico múltiplo, ou seja, tudo o que contrariava o pensamento eclesiástico passou a levar esse rótulo.

2-No período medieval, os protestos contra as injustiças da ordem social vigente vieram muitas vezes revestidos do discurso de contestação religiosa. Isso não apenas porque a Igreja fazia parte de tal ordem, mas também porque, naquela época, o conteúdo religioso era o limite do discurso de protesto. Era o único idioma inteligível, quer para a aceitar, quer para se opor.

3-O fato de o Papa Gregório IX ter chegado a proibir a leitura da Bíblia aos fiéis (1229) é um dado sintomático, ela poderia ter uma interpretação "subversiva" e, portanto, herética. As heresias religiosas representavam o nascimento das primeiras e importantes minorias dissidentes no Ocidente europeu.

4-Posteriormente, quando a repressão às heresias se organizou em tribunais inquisitoriais (séc. XIII d.C.), a Igreja pôde, ideologicamente, apropriar-se dos primeiros escritos cristãos para justificar as suas atitudes.

5-No Evangelho de São João, Cristo disse que aquilo que não permanecesse nele seria arremessado fora e lançado ao fogo para arder.

6-São Agostinho viu a tortura como um meio útil para devolver ao rebanho as ovelhas desgarradas, já que ele apenas causaria dano à carne pecaminosa, calabouço da alma.

7-Segundo Vacandart, em Les origines de l'hérésie albigeoiseSão Agostinho afirma que se a Bíblia recomenda o castigo da esposa infiel, tanto mais justo é castigar o que renega a Igreja. Os hereges matam a alma dos homens, enquanto as autoridades matam apenas os corpos.

8-Também intransigente para com as dissidências cristãs foi São Jerônimo, o qual argumentou que nem os maiores excessos deveriam ser considerados crueldade se fossem para a defesa de Deus. Segundo ele, só pela morte poderia o pecador atingir a salvação espiritual.

Referência:

LOPEZ, Luiz Roberto. Historia da Iinquisição. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

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